Hoje é corriqueiro o termo "produtos orgânicos", tal categoria engloba uma série de alimentos sadios e limpos que são cultivados sem agrotóxicos e sem fertilizantes químicos. Quem pensaria que um dia chegaríamos ao pleonasmo de desejar o orgânico do orgânico? Mas vivemos esse resgate pela naturalidade das coisas... Afinal pelo passar do tempo acabamos por alterar até a natureza dos organismos.
Há alguns anos atrás o SUS (Sistema Único de Saúde) iniciou um programa no Brasil, a “Política Nacional de Humanização", que em linhas simples, visava propiciar aos usuários do serviço público um atendimento mais humano - é contraditório, mas o que se observava em muitos centros de saúde era um atendimento deficiente e incoerente. É importante refletir sobre isso, na medida em que nos deparamos com a problemática de se humanizar o humano... Essa emergência surge na constatação infeliz de uma falta do aspecto humano nas pessoas. Infelizmente os humanos de hoje não são apenas pessoas que tratam mal os outros, eles matam também por motivos mesquinhos e banais. Temos de refletir sobre nosso cotidiano, sobre nossa essência e perceber se nos falta e se temos permitido "polimento social" em nossos filhos. Temos criado produtos nocivos... Pessoas com pestes na alma e com corações de pura terra dura e seca.
Será que nas próximas décadas teremos indivíduos que poderão ser chamados de seres humânicos? Pessoas que trazem em sua essência: educação, valores, bons hábitos e costumes. Não digo que exista um roteiro pré-determinado, as pessoas não são robôs, mas o básico é aceitar as diferenças, respeitar e permitir um ambiente social propício para o bem estar físico, psicológico e social das pessoas... Infelizmente a maioria das pessoas “é cultivada” com hábitos tóxicos e se formam cheias de vícios e traços de personalidades nocivas para si e para os outros. São como essas verduras com uma linda aparência, mas que trazem em sua constituição venenos silenciosos...
Os produtos orgânicos apresentam um lugar de destaque nos mercados e até nas bancas mais humildes, de maneira geral são produtos mais caros, em virtude de um maior investimento de pessoal e pelo aumento do tempo/ produto, pela retirada de produtos orgânicos e químicos que fazem com que ocorra uma produção em tempo menor. A maioria das pessoas não vê com bons olhos esses produtos. Querem pagar o menor preço possível e pouco se importam se alface, por exemplo, veio de uma lavoura em Chernobyl - o que vale é ser barato!
No Brasil, penso que no resto do mundo também, pouco se tem valorizado as pessoas de bem. No território nacional é visível o drama dos professores, que de maneira figurada são nossos "agricultores", são eles que lidam com nossas crianças e filhos. O que se esperar de professores tão mal remunerados? Afinal assim como as verduras, o governo quer pagar o mais barato possível... Os professores ganham mal e as autoridades não conseguem perceber a importância de nossos mestres. A educação assim como uma boa horta leva e tempo e investimento, como comparar com o concreto não é mesmo? Deve ser por isso que hoje os políticos só visam obras magníficas, não se importando muito com a qualidade dos usuários. Não enxergam a regra simples: Professor mais valorizado é igual a um profissional mais motivado e isso gera alunos melhores, pessoas melhores... Está diante do nosso nariz, mas educação é algo clichê e banal - um perigo!
Espero que um dia possamos valorizar as coisas como elas são. Assim teremos alimentos realmente naturais e limpos e pessoas genuinamente humanas e verdadeiras, até lá vou tomando cuidado com a beleza que me chega aos olhos... E vou cultivando a sensibilidade de perceber o que é natural, para poder não levar na sacola da vida, pessoas artificiais e "estragadas" e quando em casa chegar, ensinar meus filhos a preparar uma salada natural, para que aprendam desde cedo o valor do correto e do certo.
TEXTO: Rockson Pessoa
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