O grande dramaturgo grego,
Sófocles, dentro seus muitos escritos, nos relata a tragédia de Édipo. Nessa
história já tão contada, principalmente nos cursos de psicologia, filosofia e
sociologia; podemos extrair ricos significados, mas se existe algo que me chama
a atenção nesse relato, é a figura da Esfinge.
A Esfinge representa um ser
mitológico, na verdade, um monstro que tem por costume devorar homens. Ela sempre
se apresenta como inquisidora, e faz uso de sua máxima: Decifra-me ou te devoro!
A história é antiga... Mas,
de certo modo, ainda encontramos esfinges em demasia. Os homens se tornaram
preguiçosos no pensar. Por tantas e tantas vezes tentamos incutir na mente dos
alunos a postura reflexiva, buscamos instrumentalizá-los com a prudência do
ouvir e analisar, mas existe uma resistência traiçoeira. Pensar e confabular
não nos apetece? Penso que caminhamos
fatigados em uma regularidade existencial que nos deixa resignados. E em que
isso reflete? Demonstra que perdemos o dom de questionar. Passamos a refutar em
vez de ponderar. Abusamos da afronta como sendo uma forma lastimosa de buscar
respostas... Não questionamos! Apenas blindamos nossas incongruências, na
perspectiva de abalizarmos novas formas primitivas de existir, sentir e
considerar.
Somos devorados! Na forma
constante e negligente, de certo que perdemos a noção da crítica e mergulhamos
em um universo egoísta raso – vala comum. Nada sabemos e tampouco buscamos
desvelar na realidade. De tal modo, que é comum encontramos muitos
profissionais da saúde que esquecem-se de perguntar ou negam até mesmo o
tocar... Fugimos do questionamento e escondemos nossas falhas por detrás de
instrumentos modernos, de falas complicadas. Evitamos fitar os olhos, Por quê?
Porque são os pedaços indigestos que de nós sobram. São os retalhos que nos
constituem que expressam nossa deficiência em filtrar o real.
A nossa missão é essa, não a
resolução final que suscitará no extermínio dos problemas, as esfinges não
morrem, pois são os monstros que nos mobilizam e acabam por engendrar as
diminutas e perpétuas mudanças. É nossa função descortinar os fenômenos, atribuir
os reais valores aos signos que preenchem nosso campo de atuação.
Desejo que tenhamos a
humildade para compreendermos que as falhas nos impelem ao crescimento. Que
jamais tenhamos medo de fitar o desconhecido que se apresenta no agora. Pois ao
nos depararmos com o imperativo de decifrar, nem sempre poderemos responder,
mas a grandeza se faz nas tentativas, não nas resignações.