segunda-feira, 14 de março de 2011

Sobre o que não se pode prever


Na última semana observamos atônitos o retorno dos tsunamis, só que o alvo dessa vez foi o Japão. E ate esse momento esse país ainda contabiliza seus mortos. De certo modo há coisas que não podem ser previstas, por mais que pesquisas e investimentos tecnológicos sejam empregados - existem forças que não respondem a lógicas ou regras, simplesmente acontecem e causam tragédias.
Em nossa vida também observamos isso. No ser humano as forças que às vezes nos inundam e abalam são os sentimentos. Esses tais como os tsunamis, podem causar tragédias e mortes, pelo simples imperativo do desejo. Podemos ter a cultura mais elevada, a conta financeira mais abastada e até mesmo a postura de um nobre, porém até mesmo o mais centrado dos seres pode ser “deslocado” quando inflama o sentimento.
Nunca poderemos prever quando iremos machucar, quando seremos machucados. Jamais saberemos o instante em que a lembrança de certa pessoa retornará tão forte e abrupta, que nos deixará ilhados em lembranças. A verdade é que na vida devemos aprender a interpretar os sinais de “tempestades”... Devemos compreender até que ponto é vulnerável. Desvendar onde se pode caminhar e trilhar a vida com certa segurança. Sei que a tal segurança é relativa – certas vezes virtual, mas existem limites onde se esconde o relativismo e extremos onde reside concretude.
Os sentimentos são como as ondas do mar... E nós, somos como areais que desse mar bebem! Aprendemos com o tempo a compreender/ aceitar esses ritos de ir e vir. Acredito na questão dos ciclos – momentos que surgem propícios para um relacionamento e outros, que determinam não ser possível ter alguém na vida. É o tal timing! E assim muitas vezes, nos encontramos em fusos horários diferenciados, e desta forma, podemos estar com a pessoa dita certa, mas em momentos inférteis para um relacionamento. Na maioria das vezes os ciclos determinarão se tal relação permanecerá ou não. Não pela qualidade dos seres, mas pela arquitetura do momento. A verdade é que a maioria dos relacionamentos não perdura – são tragados por tsunamis e acabamos por decretar “calamidade privada do coração”. Ondas gigantes surgem e destroem e nos obriga a recomeçar com outra pessoa e em outro momento. Tais tsunamis surgem desses momentos em que damos as costas para o mar – quando esquecemos que o tal mar (sentimentos) nos constituem – ele nos compõe. Não se pode aprisionar o vento... Não se podem armazenar as águas nas mãos. O Japão aprendeu essa lição e cabem a nós, seres continentes, compreendermos o risco que reside em nós. É interessante que saibamos que os sentimentos são assim, jamais aprisionáveis, mas de certo modo podem ser evitados. Somos o que escolhemos e nesse sentido – por meio de nossas opções escolheremos bonança ou tempestades – o que não se pode, é esperar por momentos de frio e calor ao mesmo tempo. Porque os sentimentos sempre respeitarão uma ordem, afinal só surgem quando num desequilíbrio de desejos.  Talvez sejam as vozes silenciadas da razão, que rompem com o silencio do querer. Como se quisessem alertar que o mar está agitado e que as coisas podem acabar mal.
Desejos, sentimentos e tsunamis... São fenômenos que fazem parte do fundo humano e sempre estarão por perto, esperando a oportunidade de mostrar nossa fragilidade... Nossa real natureza humana.

TEXTO: Rockson Pessoa