sábado, 31 de dezembro de 2011

Dos mesmos ciclos



O problema dos finais é que eles sempre se repetem na ritualísitica, penso que se buscasse na postagem do ano passado, encontraria similaridades  desse texto com o anterior. Esse é o desafio de quem ousa escrever sobre o cotidiano – saber se repetir sem o fazê-lo perceptível, reinventar em cim do banal e do trivial. muito Complicado!
Acredito que pertinente seja fazer uma retrospectiva cuidadosa. Uma retrospectiva  verdadeira. Algo que agregue algo ou coisas, afinal, escrever sem sentindo tem sentido demais para ser charmoso. Esse ano foi um ano de tantas mudanças. Troca de Estado, e ainda sinto saudade das ruas frias de Porto Alegre... Daquele vento minuano que não se pode explicar! Só sentindo nas costelas mesmo. Mas retornar é sempre inexplicável... E tanta coisa mudou para melhor, e as lágrimas dos janeiros tristes há muito secaram. As coisas apertaram, as coisas mudaram e houve aprimoramento. E me asusto até hoje com a realidade de ser professor. Professor universitário, quem diria? E resta a saudade apertada da turma de neuropsicologia e das reuniões e das dúvidas quanto ao nosso campo novo. Saudade da minha família do Sul, dos mais chegados e dos mais distantes.  Viver é conciliar saudade e desapego.
São muitos olhos! Muitos olhos que nos fitam e muitos olhos para encarar... E por trás dos olhos há campos para semear conhecimento – para propiciar a gênese do que nem se podia imaginar. Por fim, comecei o ano em um quarto verde, sim o meu quarto quieto e verde lá no Rubem Berta e hoje espero festejar o Natal nos muitos prováveis bairros que eu puder imaginar.
Hoje compreendo que é verdadeiro o pensamento de que cuidaderemos de nossos pais no futuro, só não sabia que o futuro muitas vezes se confunde com o presente. E gratificante é ajudar os pais que nos cuidaram,  e que um dia preparam nossas primeiras ceias. E como me recordo das primeiras ceias... Das calças de linho e das camisas de seda. Era tanta pompa e tanta alegria, e no chão os pisos ainda por colocar. Hoje em dia, a casa é grande e confortável, mas nos corações, o mesmo espirito parece que perdeu o sentindo – esmoreceu . E penso que isso seja em todas as casas do mundo e em todos os corações dos homens.
O homem se perdeu no próprio tempo que acelerou...  Perdeu o controle das horas, dos dias e dos anos. E assim dormimos em um mês e nos percebemos acordar no mês seguinte, e não bastasse isso,  O ruim é não mais despertar.
E se o tempo corre, corremos nós atrás do acelerado e do perdido. Atrás dos sonhos escondidos, dos amores incompreendidos e do ontem que não mais viveremos... E tudo isso acaba no dezembro natalino... E se chegamos aqui muídos, nos revigoramos milagrosamente no janeiro que começa amanhã, para depois voltarmos ao vício de novamente se deixar perder. Talvez a graça da vida seja esquecer que ela é breve. Penso que o viver genuíno é esse onde nos desligamos das horas que não mais teremos e dos sonhos que tentaremos reaquecer.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

As novas balas perdidas


Com o desenvolvimento das sociedades e o esgotamento das vias urbanas, que se transformaram em redutos de procrastinação, nos deparamos com o vezo do descontentamento e estresse. Sim, só nos resta aprimorar os recursos tecnológicos que atenuem o caos do trânsito nas grandes cidades e então nossos carros ou se transformam em um espaço zen, pela utilização de músicas instrumentais, ou se torna um cinema improvisado com a ajuda de DVDs diversos.

 Na contramão de tudo isso, observamos o empenho engenhoso das indústrias automobilísticas, que cada vez mais nos surpreendem com seus carros econômicos e velozes. Se por um lado a sociedade nos diz que o espaço é reduzido, por outro viés encontramos carros superpotentes. Carros que outrora significam luxo de muitos poucos, mas que hoje são acessíveis a quem poder pagar mais e hoje se pode isso. A crítica não é a acessibilidade aos carros de luxo, a preocupação resulta nessa desproporcionalidade. Disse-se que não há mais espaços nas vias públicas, por que então criamos carros cada vez mais velozes? Onde se encontra o sentindo disso. Do lado das montadoras a resposta padrão é a aquela que afirma que tais carros foram feitos para estradas e vias rápidas. Porém, nesse polêmico bolo social, ainda temos mais um ingrediente - o álcool. E então tudo se torna muito mais fatal.

Nos últimos anos temos acompanhado um crescimento vertiginoso em mortes no trânsito. Se por um lado as pesquisas apontam que os acidentes diminuíram, por outro observamos que nesse mínimo se constata um aumento dos óbitos no trânsito. Nos últimos meses, observamos carros superpotentes dizimando famílias e tolhendo os sonhos de pais que hoje choram perdas absurdas. Hoje mais uma adolescente de 16 anos atropelou 05 pessoas inocentes. Onde iremos chegar assim? Se outrora a mídia relatava o tal fenômeno das balas perdidas, hoje temos essas novas balas, esses objetos de metal que tem um poder destrutivo imensurável. 

O Brasil ainda fecha os olhos para tudo... Infelizmente a maioria dos crimes no trânsito é considerada culposa e por fim, cabe pagar a bagatela por uma ou duas vidas. A verdade é que somos vulneráveis nesse trânsito absurdo. Temos que dirigir por nós, pelo motoqueiro desafortunado, pelo motorista embriagado e pelos pedestres suicidas. Pra mim tudo isso se resume em falta. Ou nos falta leis mais duras, ou nos falte mais olhos na cara, para sobreviver nesse trânsito perverso




TEXTO: Rockson Pessoa
IMAGEM: http://agenciabrasil.ebc.com.br

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

ENEM eu sabia


Mais uma vez o MEC demonstra sua deficiência com o Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM. Não bastasse o fiasco do ano passado, quando inúmeros estudantes foram prejudicados por questões anuladas, por reexames e até pela precariedade do SISU, que fechou portas para inúmeros jovens que não conseguiram desvendar os enigmas de um sistema tão deficiente.

A culpa não é totalmente do MEC, não se pode negar os avanços nesse Ministério a culpa é dos governantes e de nós mesmos que aceitamos passivamente a negligência no ensino brasileiro. Não é a toa que ocupamos os lugares mais baixos na avaliação internacional.

É vergonhoso um País com em ascensão como o nosso ainda se utilizar de políticas alienantes que defendem a existência de semi-analfabetos votantes e que restringe cada vez mais o conhecimento para alguns poucos. Por mais que a Presidente (não é presidenta), fale aos países do primeiro mundo que se pode mais e algumas outras coisas fáceis de dizer e difíceis de aplicar, se mostra muito leviana na medida em que, quando pratica sua tarefa de casa, corta recursos para a educação e marginaliza seus professores.

Mas a culpa como já citei acima, não reside na Dilma e tampouco é culpa do agora diplomado Lula da Silva, isso é resquício da nossa colonização exploradora que parece que nos impregnou a tal ponto que até hoje o conhecimento parece ser algo inalcançável. Quando na verdade, o aprender é algo do ser humano...

Canso de ver isso semanalmente, quando atendo crianças que sadias me surpreendem ao não saber ler e escrever. Crianças com 08 anos, que se mostram analfabetas. Isso é puro descaso. E para piorar, quando nos deparamos com os alunos universitários, não menos freqüente, encontrar semi-analfabetas, analfabetos funcionais e mais uma gama de sujeitos que nem sabemos categorizar.

E o triste é perceber que o cenário só tende a piorar, como sempre, as coisas sempre caminham nesse sentido. Precisamos de medidas maduras, precisamos de um real valor da educação. Infelizmente o problema da educação é clichê! Algo que já até se tornou banal... E o pior, quando discutimos isso, é vistos como pessoas rasas e sem idéias, pois o discurso do problema educacional se tornou um fator do senso comum.

Situações como a do ENEM só mostram o deficitário sistema de educação no Brasil. Quando observamos o norte nos entristecemos mais ainda... E no nordeste encontramos algumas disparidades também. E tudo isso só gera preconceito, e então ouvimos que os nordestinos são burros e os nortistas são índios ignorantes. Onde está escrito isso? Historicamente observamos uma educação que privilegiou poucos em detrimento de muitos.

O Brasil tem de programar leis mais sérias e coerentes. Objetivar métodos que avaliem de maneira justa nossos jovens. São tantas cobranças e tantos sonhos e quando nos deparamos com entraves na própria seleção, isso é mobilizante. O Brasil tem que aprender a lidar com o problema educacional de maneira real, de que adianta promover alunos incapacitados para séries mais elevadas, criando a espécie de um funil, e permitir de maneira perversa que o mesmo jovem antes privilegiado por um sistema facilitador se veja incapaz de entrar em uma universidade? Cotas e cotas não irão resolver o problema educacional, da mesma forma que bolsas família não irão sanar as diferenças sociais no Brasil

E assim vamos tentando acreditar que as coisas melhorem. Que as crianças tenham mais oportunidades de ensino qualificado e que os professores possam de fato, serem reconhecidos pelo o nobre papel social que cumprem.


TEXTO: Rockson Pessoa

terça-feira, 28 de junho de 2011

Crônicas do Cotidiano vai virar livro

Faz certo tempo que não publico textos neste espaço e pior, faz tempo que não visito as páginas de muitos amigos aqui. O motivo é a minha recente volta ao minha cidade natal e ainda estou organizando: vida, coisas e os textos têm ficado na vontade.

Outra coisa boa:

Parece (muito vago ainda) que o Crônicas do Cotidiano irá enfim virar livro! Coisa boa hein? E isso é fruto dos amigos que disponibilizaram tempo e carinho para comigo e para com esse espaço.

Pretendo voltar a escrever e a visitar os amigos o mais breve possível e desde já deixo minhas sinceras desculpas e o meu mais singelo MUITO OBRIGADO!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Seres plásticos


As vezes me questiono: Onde temos errado? Por mais que eu desconfie da resposta. Mas de que questionamento falo? Falo da dúvida de saber para onde estamos indo. Na verdade a questão é saber se estamos indo para algum lugar de fato. As vezes percebo e sinto um movimento de areia movediça, ou seja, um movimento estagnante, lento e perigoso.
As mulheres querem ter filhos. Os homens prestígio, mas será que é isso mesmo? Será que é isso que preenche os ‘vazios’ de suas existências? Acredito que não. A grande maioria das  mulheres depois de terem seus filhos ficam se lamuriando e não aceitam ou percebem que nossos presentes são idealizações do passado e que filhos não são objetos – são seres da atenção e cuidado. É claro que boas mães existem, mas são raríssimas.
Objetos... Tudo se resume a isso. Hoje somos tão artificiais, somos tão incongruentes e isso é perigoso. Não digo que esse vazio é algo banal, pelo contrário, vejo e percebo uma patologia camuflada. Uma doença que tem nos matado e nos tornado tão menos humanos do que o costume.
Vivemos a tal apatia esperada... Percebo hoje que aquele tal amor bíbilico de fato esfriou, mas não digo isso por um sentimento religioso, na verdade, confabulo sobre isso com um olhar pseudo científico, afinal as constatações são irrefutáveis.
Hoje ser mãe é complicado. Cuidar de filhos se tornou um tormento e aí daquele que repreender as novas mães. Querem filhos lindos e bonitos para se vangloriarem, mas pobres crianças... Padecem aos cuidados virtuais de mulheres tão doentes. E nós homens temos seguido o mesmo caminho.  Nunca tivemos a tendência de sermos bons pais, apesar de alguns poucos lograrem êxito na paternidade. Mas se observamos a média, ou seja, se observamos o comportamento da grande maioria dos ditos pais, constatamos violência do lar e negligência transvestida de ‘machismo caduco’. Por fim podemos resumir os gêneros de hoje em: Mulheres esteticamente perfeitas – malhadas, anabolizadas, pintadas, maquiadas e etc. E na outra ponta encontramos homens alinhados e também malhados com seus carros potentes, chamativos e barulhentos.
Apatia e barulho, muito barulho... Deve ser uma forma falível de disfarçar e se fazer inaudível o barulho existencial – e assim a gente enche a cara, coloca a música nas alturas e a sociedade que se dane. E tem se danado mesmo, porém esquecemos que nós mesmos somos sociedade. Ignoramos por displicência que somos a soma dessas partes carcomidas de ‘eus’. Dessas nefastas e delirantes dores existencias de um nós tão, mas tão destruído.
O que iremos fazer? Pergunta difícil de solucionar – pois vejo um progresso lento mas contínuo dessa patologia social. Me perdoem os meus amigos sociólogos se digo besteiras ou falo lorotas, mas na minha inexperiente e rasa percepção vejo o que não quero ver. Uma sociedade vazia e barulhenta. Pessoas que mortas pensam viver e que só choram quando corpos descem à cova. Vejo vidas vazias, mentes doentes e corpos mentirosos e falsos. 
Hoje nos cabe a definição de objetos. Adotamos uma postura e um perfil de seres descartáveis e construímos uma sociedade com a nossa ‘cara’. E asssim vejo mulheres que não conseguem nem repassar um amor mais simplório aos seus filhos. E dessa maneira noto homens que não conseguem nem iludir seus filhos com a tal e necessária segurança. E daí o que temos? Temos adolescentes assassinos que riem pela proteção de um ECA ultrapassado e delirantemente romântico. E daí percebo mortes no trânsito porque pessoas bebem para se alegrar e encontram a tristeza do ‘pra sempre’ em alguma curva fechada da pista.
A culpa não é apenas dos pais, pois como já dito, a sociedade está doente. Mas não podemos nos render ao cansaço visível e aceitar um fim deplorável. Se escolhemos colocar pessoas no mundo, temos por função permitir à tais seres uma segurança mínima e um tempo e lugar para construirem seus sonhos, por mais que a realidade não seja tão maravilhosa assim. Elas (crianças) não tem e nunca terão culpa por  nossos ‘ais’.
Educação, valores, moral, ética... Tudo isso fôra em um passado não muito distante algo de extrema necessidade, e por ironia do destino, isso se tornou nos nossos dias algo extremamente ‘cafona’ – há quem diga que é artigo de luxo. Item de colecionador. E triste é perceber, que os ditos colecionadores são muito poucos. 
E assim me entristece essa mesquinhez gratuita. Essa falta de auto-crítica e pior, essa rapidez de faroeste, em culpabilizar os outros por problemas que na grande maioria são da própria autoria dos sujeitos ditos ‘vitimizados’. Somos filhos do ‘sim constante’. Queremos a facilidade do politicamente correto, por mais que danoso ele seja a longo prazo. Mas quem se importa com o longo prazo? Estamos tão acostumados com os contas a prazo, como se fosse possível diminuir nossa dor em parcelas, em doses homeopáticas e paliativas de um ‘só por hoje apenas’. Somos uma geração alienada e cansada, na verdade uma geração que nega uma doença visível, por um simples charme ou quem sabe, por uma pura e alienante maquiagem que adotamos para sobreviver.

domingo, 22 de maio de 2011

Amenidades, conversas e amizade.



E então quando nos apercebemos estamos novamente na mesa em conversa franca – revelando segredos que já perdem a sua essência e confidenciando os temores, os sonhos e rindo. O riso é a marca dos amigos. O estandarte que denuncia o sentimento de ambos. Assim são os velhos e ‘redecorados amigos’.

Amigos são essencias – são como marcadores sociais de nossa vida. Representam ciclos e momentos e são a prova cabal e singela de que as coisas verdadeiras perduram ao longo dos anos. De fato as amizades não envelhecem – nós mudamos, mas o sentimento esse é imutável.

Semanas atrás um grande amigo casou-se... Estar lá e vivenciar essa transição foi algo marcante. Tanto para ele, quanto para cada um dos amigos que compareceram com seus mais alinhados ternos. De certo modo se concretizava uma verdade – o amor foi celebrado, mas para nós ficou outra sensação. O tempo passa para nós também e no ar ficou a dúvida: Quem será o próximo?

Amigos falam de tudo e falam de nada... Rimos das risadas involuntárias e damos gargalhadas dos choros e tristezas dos anos passados. É comum termos essa insensibilidade com nós mesmos, é de certo modo a comprovação de que estamos em constante mudança e isso é um chiste!

Houve um tempo que eu achava que a amizade mudava com o passar do tempo. Pensava que ela poderia envelhecer e perder a cor – desbotar pela ausência ou pelo descaso da presença antes comum e agora tão rara. Seguimos nossas vidas e as agendas conflitam, isso é bem comum. Nessas horas percebemos que os sentimentos que depositamos nos outros se vão com eles e cabe à nós a inteligência de respeitar a liberdade daquele que segue sua maratona existencial.

Namoramos, noivamos, casamos e ao longo desses ciclos e ritos – vamos ficando enlutados pelos amigos que se afastam e por aqueles que inevitavelmente passarão a ser lembrança ou apenas uma foto que captada em segundos, revela vidas e histórias de anos. Assim são os verdadeiros amigos – sempre tão voláteis, mas sempre tão presentes. Amigos se vão – viajam, ficam anos em outros estados e países, mas o mais surpreendente é constatar que o sorriso do amigo é o mesmo quando na volta, de alguma maneira nada muda...

Hoje estive com 3 grandes amigos... Amigos de safras diferentes – como bons vinhos que se tornam excelentes pela diversidade e riqueza que possuem. E agora ao escrever esse texto, percebo que amigos mudam. As ideologias mudam, os comportamentos mudam (e como mudam), mas se de alguma forma somos atraídos para próximos deles é pela simples e fugaz razão: o sentimento amizade esse não muda. Os hospedeiros (nós), esses se alteram e evoluem mesmo – é traço do ser humano, mas o sentimento, esse não se altera, mesmo quando descobrimos que amigos falham e erram, mas não deixam de ser amigos.

Hoje foi interessante essa observação acidental – foi como voltar no tempo. No tempo que as madrugadas eram brindadas pelas conversas amenas e muitas vezes delirantes, mas os sorrisos e as gargalhadas, essas eram a expressam pura e verdadeira de que amigos são os irmãos que escolhemos ter. Sempre existirá na lembrança os bons tempos. Os grupos, os desenhos e as caricaturas nossas... Para alguns sempre existirão os ‘irmãos wilson’ e para outros sempre existirá a perplexidade de ver que a vida nos prega muitas peças, mas de certo modo não é mentira dizer: sempre teremos os mesmos amigos por perto para poder rir, chorar, desabafor e por fim, comemorar.

Rockson Pessoa

domingo, 15 de maio de 2011

Está faltando gente!



Está lotado! Este deveria ser o anúncio em todas as portas das casas. Deveria ser esse o slogan das escolas, das igrejas e dos gabinetes. Têm título demais no mundo – médicos demais, advogados em demasia, pastores, padres e todos nós profissionais. Mas por alguma razão incongruente, nos falta ‘gente’.

Ando nas ruas e vejo diplomas, encaro roupas de grife e seres apressados. Mas encontro poucos seres humanos. Estariam eles em extinção? Os humanos mais comuns têm a idade entre 2 a 7 anos. Depois disso perdem a inocência, a grande maioria, e se torna simulacros de adultos enfadonhos e ocos.

Nas ruas vejo carros apressados, ônibus lotados e o comum é sempre encontrar esses pseudo-humanos sendo carregados para cima e para baixo, mas não importa o meio de transporte – são todos iguais.

Quando foi que nos tornamos tão mesquinhos? Em que momento da nossa história rasgamos a moral e os valores e passamos a considerar o nosso umbigo como realeza? Não sei, só sei que a humanidade caminha para um desumanidade laxante.
Os japoneses buscam fazer robôs humanos e nós buscamos avidamente nos tornamos humanos robôs – a diferença é que os japonês ainda buscam o protótipo, enquanto nós já nos tornamos um produto raso e perfeito da indiferença.

Então é esse o cenário: robozinhos e barbies de idades variáveis nas ruas. Mulheres plásticas e saradas e homens anabolizados e motorizados. O mundo exige isso – os que não se encaixam viverão no limbo do descaso. E assim as coisas mais uma vez se invertem: os certos são aviltados e os anômalos consagrados – é a modo de ser diferente: a onde é nada combinar!


Hoje valores básicos como respeito ao próximo e educação estão extintos! E se engana quem acha que os despossuídos são os pobres e miseráveis, pelo contrário, a gente geralmente encontra valores e respeito nos menos favorecidos... A ignorância senta em bancos de universidades e faculdades. A brutalidade social já é diplomada!
A verdade é que somos dominados por nossos egos de elefantes! Somos peças descartáveis de uma sociedade adoecida que grita em quadro paranóico. Estamos adoecidos, na alma e no corpo. Mas anestesiar é apenas um mascarar o problema, mas infelizmente a grande maioria busca por tal engodo - e assim vamos nos drogando, vamos nos alienando em frente as maiores e mais caras tv’s. Tudo para esquecer e mortificar o humano que teima em viver em nós.

Quem sabe um dia nos tornemos os tais robôs desejados, quem sabe... Mas para minha infelicidade vejo uma involução! E assim vejo pessoas se tornando animais e por isso é que torno a dizer: tá faltando gente! E aí, o que você irá fazer?

TEXTO: Rockson Pessoa
IMAGEM:http://vaiquecola.tumblr.com/

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Páscoa e embalagens descartáveis



Estamos na semana da páscoa. Lojas abarrotadas de chocolates gigantes (tem criança que come aquilo tudo?) e pais mais preocupados em dar bons ovos, do que em conversar com seus filhos.

Hoje já não sou tão novo, mas ainda me recordo da páscoa quando criança. Me lembro com saudade daquela sensação mágica de ver aquele ovo de chocolate ao meu lado. Boas recordações. O engraçado que de tudo isso, apenas uma coisa me chama mais a atenção - a lembrança vívida do ritual de amarrar a fitinha que vinha no ovo em meu braço. É disso que mais me recordo, da singela e mesquinha fitinha... Não me recordo muito dos pedaços de chocolate, porque sempre vinha aquela sensação de enjoo, depois de pedaços e pedaços do doce.

Nos últimos 4 anos tenho observado que minha páscoa está longe de ser a que foi um dia. Talvez porque as coisas mudaram. Quem sabe por problemas que tenho vivido. Mas penso eu, que as coisas mudaram para todos. Páscoa, Jesus, vendas, sagrado e profano... Colocaram tudo em um departamento e virou sinônimo de período para entretenimento. Momento de vender e encher o bolso – é isso que importa.

Entretenimento... Essa é a palavra! Hoje eu mudo os canais na tv e vejo muito se falar de Deus. Vejo inúmeras denominações e igrejas falando de um Deus, mas sei lá, tá complicado. Institucionalizaram Deus – Jesus então... Todo ano o colocam numa cruz de marketing e no fim, só encontro coelhos, ovos de chocolate e um peixe caríssimo para dizer que estamos lembrando de alguma coisa que aconteceu, mas é isso a páscoa?

As vezes penso que querem matar Deus. O querem calar. Penso que desejam fazer dele um item de colecionador. Banalizaram Deus essa é a verdade. Hoje as pessoas o querem vender. Isso é deprimente. Onde iremos chegar assim? Não é a toa que devoramos ovos atrás de ovos, numa forma de preencher um vazio que inicia a cada dia e a cada momento.

Ontem participei de uma missa para um indigente. Um cadáver que será utilizado no laboratório da faculdade onde dou aula. Não sabia que existia missa para tais situações, mas eu participei do rito. Foi alguém... Morreu como indigente, mas viveu. Hoje é apenas um corpo que será objeto de estudo.

As vezes acredito que Jesus é como esse indigente nos dias de hoje. É um indigente para nós e a missa ou culto que prestamos na páscoa é apenas um rito simbólico, uma forma de dizer. ‘Ok; ok já rezamos, oramos agora vamos ao que interessa’. A vida é assim hoje em dia. Sagrado e profano se misturam, se confundem. Hoje Deus é sinônimo de dinheiro, felicidade e muito, mas muito pouco discernimento. As pessoas hoje querem vender um Deus que nos deixa bitolados, sem atitude. Engodo e engodo.

Hoje temos milhões de ovos para comer... Tamanhos variados, gostos variados. Eu já comprei doces para os meus. Já cumpri o rito de espalhar o amor em forma de doce na minha casa e ontem eu orei por Jesus sem nome.

No fim, estou sem a fitinha para amarrar no meu braço. Estou sem o sentimento de outrora, talvez porque aquele que morreu na cruz um dia, precise ressuscitar em mim. Talvez porque hoje enterramos nossas emoções e seguimos como indigentes. Mas sei lá! Quem sabe somos a como esses ovos decorados, que servem apenas para cumprir um rito de aparências. Hoje aceitamos ser apenas uma peça para decorar vitrines. Hoje nos damos a preços irrisórios e no fim... Cumprimos uma época mesquinha e barulhenta em dada vida, para depois sermos como embalagens que para nada mais servem. Como indigentes, que descem à cova sem nome ou quem sabe, peças de estudo para outras futuras peças.

TEXTO: Rockson Pessoa
IMAGEM: http://www.hypecetera.net

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Tragédia de Realengo – O que se pode dizer?



Semana passada ficamos chocados! Toda a sociedade brasileira se chocou. Um louco (clinicamente falando) invadiu uma escola e fuzilou crianças inocentes. O que se pode dizer? Sinceramente não sei nem o que pensar.
A verdade é que as escolas se tornaram um lugar hostil e perplexo acompanhei ao longo dos últimos anos muita violência nessas nossas instituições tupiniquins. Crianças brigando e postando vídeos na internet, alunos espancando professores, drogas fluindo pelos corredores. Isso já havia nos chocado e tenho reconhecer que já havia nos banalizado.
A tragédia de realengo surge como um novo marco, ela nos mostra que não há limites para uma mente pertubada ainda mais quando encontramos escolas sem segurança e de certo modo ‘abandonadas’. É claro que não foi culpa da escola no caso de realengo. O assassino poderia matar onde quisesse – infelizmente no seu delírio religioso, os alvos foram as inocentes crianças que não tinham culpa de nada.
Essa tragédia causou uma ferida em nossos corações. Hoje o medo assume novas formas e possibilidades, nossos temores mais profundos de fato existem.
Os pais enlutados jamais entenderão a tempestade que passou em suas vidas. Levarão um bom tempo para aceitar que no lugar improvável, cenas de um filme de terror ocorrerão. As crianças que sobreviveram carregarão a marca da lembrança. A dor de não terem salvo seus amigos e amigas e mais, terão sempre um ambivalência de emoções, quando uma parte será sempre grata pela nova chance de vida e outra parte, as confrotará com a pergunta: Por que eu sobrevive e não o fulano ou a fulana.
A polícia, tantas e tantas vezes desacreditada, mostrou que há excessões e que a grande maioria de seus homens ainda são dignos de confiança. Hoje temos um herói, um herói que pouco se alegra com esse reconhecimento, pois na cabeça do agora sargente Márcio Alexandre existirá sempre a cobrança do tempo: E se eu tivesse entrado 5 minutos antes? Para ele pesa a dor de não ter salvo mais crianças. Levará certo tempo para ele entender que as tragédias psiquiátricas são assim mesmo – não há como prevê-las. Pois a maldade nem sempre pode ser vista nos olhos.
Não bastasse essa trágedia e a comoção nacional – já surge a idéia de novo plebiscito referente ao desarmamento. Politicagem e tragédia sempre uma boa relação e agora voltaremos as urnas mais uma vez, mas isso resolve? Não resolve! Na tragédia de Realengo observamos isso, o assassino Wellington Menezes, comprou as armas no mercado negro. Então essa história de usar sofrimento alheio para emplacar ditames pseudo-constitucionais, isso me enoja.
Devemos acordar! É isso mesmo. Ais pais eu digo: Cuidem de seus filhos. Conversem com seus filhos. Quantos e quantos casos de estupros no caminho da escola? Quantos e quantos casos de adolescentes que foram estupradas e mortas voltando da escola. Nessa hora não adianta culpar  o estado e sair por vítima. O Estado tem obrigação de dar segurança para nós, mas terei de entregar meus filhos como mártires? Penso que não. Enquanto o mundo for mundo e as pessoas serem as mesmas pessoas de sempre, terei de entender que a oportunidade fará o ladrão, o estuprador, o pedófilo, o assassino e segue a horrenda lista.
O problema é a banalidade. A vida se tornou assunto e manchete de jornal. Hoje um corpo na rua é motivo de fofocas ligeiras e nada mais. Até que um dia o tal corpo é de um de nossos familiares. Esquecemos da realidade da morte, mas independente se esquecemos ou não da concretude da mesma, ela existe – por isso a regra é simples: Cuide dos seus! Não que isso irá resolver tudo, pois realengo é um exemplo que por mais que cuidemos dos nossos filhos, sobrinhos... Sempre haverá oportunidades para as tragédias, mas por mais que exista esse 1% de tragédia, devemos seguir e tomarmos a postura de responsáveis por nós e pelos nossos familiares.
Tragédia de Realengo... Só o tempo apagará as marcas daquela fatídica manhã. Que as famílias enlutadas possam superar a dor e a ausência dos que foram covardemente ceifados.


segunda-feira, 14 de março de 2011

Sobre o que não se pode prever


Na última semana observamos atônitos o retorno dos tsunamis, só que o alvo dessa vez foi o Japão. E ate esse momento esse país ainda contabiliza seus mortos. De certo modo há coisas que não podem ser previstas, por mais que pesquisas e investimentos tecnológicos sejam empregados - existem forças que não respondem a lógicas ou regras, simplesmente acontecem e causam tragédias.
Em nossa vida também observamos isso. No ser humano as forças que às vezes nos inundam e abalam são os sentimentos. Esses tais como os tsunamis, podem causar tragédias e mortes, pelo simples imperativo do desejo. Podemos ter a cultura mais elevada, a conta financeira mais abastada e até mesmo a postura de um nobre, porém até mesmo o mais centrado dos seres pode ser “deslocado” quando inflama o sentimento.
Nunca poderemos prever quando iremos machucar, quando seremos machucados. Jamais saberemos o instante em que a lembrança de certa pessoa retornará tão forte e abrupta, que nos deixará ilhados em lembranças. A verdade é que na vida devemos aprender a interpretar os sinais de “tempestades”... Devemos compreender até que ponto é vulnerável. Desvendar onde se pode caminhar e trilhar a vida com certa segurança. Sei que a tal segurança é relativa – certas vezes virtual, mas existem limites onde se esconde o relativismo e extremos onde reside concretude.
Os sentimentos são como as ondas do mar... E nós, somos como areais que desse mar bebem! Aprendemos com o tempo a compreender/ aceitar esses ritos de ir e vir. Acredito na questão dos ciclos – momentos que surgem propícios para um relacionamento e outros, que determinam não ser possível ter alguém na vida. É o tal timing! E assim muitas vezes, nos encontramos em fusos horários diferenciados, e desta forma, podemos estar com a pessoa dita certa, mas em momentos inférteis para um relacionamento. Na maioria das vezes os ciclos determinarão se tal relação permanecerá ou não. Não pela qualidade dos seres, mas pela arquitetura do momento. A verdade é que a maioria dos relacionamentos não perdura – são tragados por tsunamis e acabamos por decretar “calamidade privada do coração”. Ondas gigantes surgem e destroem e nos obriga a recomeçar com outra pessoa e em outro momento. Tais tsunamis surgem desses momentos em que damos as costas para o mar – quando esquecemos que o tal mar (sentimentos) nos constituem – ele nos compõe. Não se pode aprisionar o vento... Não se podem armazenar as águas nas mãos. O Japão aprendeu essa lição e cabem a nós, seres continentes, compreendermos o risco que reside em nós. É interessante que saibamos que os sentimentos são assim, jamais aprisionáveis, mas de certo modo podem ser evitados. Somos o que escolhemos e nesse sentido – por meio de nossas opções escolheremos bonança ou tempestades – o que não se pode, é esperar por momentos de frio e calor ao mesmo tempo. Porque os sentimentos sempre respeitarão uma ordem, afinal só surgem quando num desequilíbrio de desejos.  Talvez sejam as vozes silenciadas da razão, que rompem com o silencio do querer. Como se quisessem alertar que o mar está agitado e que as coisas podem acabar mal.
Desejos, sentimentos e tsunamis... São fenômenos que fazem parte do fundo humano e sempre estarão por perto, esperando a oportunidade de mostrar nossa fragilidade... Nossa real natureza humana.

TEXTO: Rockson Pessoa

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando os navios têm de retornar.


“(...) Somos dois navios que perseguem rumo e objetivo próprios; podemos, sem dúvida, nos cruzar e celebrar festas entre nós, como já fizemos -- então, os bons navios repousavam, lado a lado, no mesmo porto, sob o mesmo sol, tão calmos que pareciam ter atingido o objetivo e tido o mesmo destino. Mas, depois, o apelo irresistível de nossa missão nos levava, de novo, para longe um do outro, para mares, em direção a paragens, sob sóis diferentes -- talvez para nunca mais nos revermos, talvez para nos revermos ainda uma vez, sem nos reconhecermos: mares e sóis diferentes nos teriam transformado (...)” [NIETZSCHE -- "Amizade de Astros" In: A Gaia Ciência]



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E quando os tais navios aportam novamente? Navios que após longas viagens retornam, porque na vida sempre há a [necessidade] de retorno. Como ocorreria esse (re) encontro em alto mar? Acredito que os navios carcomidos pela ferrugem têm seu lugar de estar, mas não de ser, pois o ser se dá em todo espaço e momento.  Um porto para segurança - lugar de águas mansas para se chamar de lar. E nessas ferrugens tão próprias reside a identidade de nós mesmos – como marcas que nos serve de referência, como bandeiras que denunciam nossa origem

Seguimos por rotas que desconhecemos. Somos os navios que aportam e que partem. Somos a semente da saudade que deixamos e o fruto da mesma saudade que em nós devora – é impossível não ter ou deixar saudade. Porque destes muitos portos que outrora atracamos sempre cabe no porão de nós mesmos, as marcas, os sons e as imagens de cada lugar, de cada pessoa. Como bons navios sabemos que nossa natureza seria regida pelo desbravamento das águas, não importando ser mar ou rio – cortaremos de leve a superfície e seremos por entrega contínua, porque  no mar da vida, para se navegar é necessária a entrega...

Hoje sou navio que tem a prerrogativa de volta – cabe a mim o imperativo de um retorno. Reside nos porões e em minha estrutura a necessidade de voltar às águas que outrora deixei. E nessa dinâmica de volta e de deixar saudade, terei de compreender que sempre deixaremos marcas e também seremos marcados. Com o tempo o rastro nas águas sumirá e pelo avanço do trajeto nem perceberemos, mas as marcas que em nós ficam – essas são para a vida toda. E caberão reparos no casco para podermos cumprir as muitas viagens que ainda haverão de ocorrer, pois navio parado de nada serve a não ser cada vez mais enferrujar!

Cabe aos "bons" navios a compreensão da hora de partir. É necessária a sabedoria para aceitar que a permanência no mar é constante – no rio pouco estaremos, afinal com o passar do tempo adquirimos a necessidade de águas profundas. Pelo o amadurecimento, pelos intentos e por tudo que cabe no aço dos sonhos.

A maior dor é perceber que alguns portos poderão nunca mais ser vistos... É duro aceitar que algumas pessoas já não mais existirão quando num fortuito retorno – elas obedecem ao ciclo das águas! É provável que nunca mais fitemos certos olhos, aqueles que antes nos fitaram quando na navegação de chegar. Aprendi assim, que a saudade dói mais quando no retorno, pois quando se desvenda o mar da distância se compreende a dura verdade:

Quando retornamos se navega na dor de partir pra nunca mais voltar...


TEXTO: Rockson Pessoa
IMAGEM: http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_299595.shtml

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

CRACK: Quem nunca pecou que “fume” a maldita pedra.



Ela estava condenada... Ao seu redor algozes – lobos sedentos por sangue. Pareciam desejar “expiar” seus profundos e profanos desejos por meio daquela prostituta. Quando todos estavam com as pedras em posição de lance – eis que Ele se aproxima e por mais que demonstrasse estar alheado a tudo – passa a escrever na areia os pecados ocultos dos acusadores... As pedras caem no chão, os hipócritas voltam para suas vidas medíocres e a mulher arrependida encontra redenção.

Essa é uma passagem da bíblia – para alguns um livro de histórias delirantes e absurdas e para outros um manual de vida. Não quero aqui discutir ou bafejar a nenhum ponto de vista é o livre arbítrio.

Muito tempo passou... Mas os homens permanecem com seus velhos hábitos – a necessidade de buscar [bodes], que sejam de modo inconsciente, uma suavização de “pecados”, pecados estes que sempre teima em residir no outro. As pedras continuam nas mães lancinantes e só resta um [superego] para resistir aos imperativos de um desejo antiquado.

As pedras rolaram... E nos anos 80 receberam o nome de crack nos EUA e acabaram por destruir milhares de americanos pobres, negros e marginalizados. Nos anos 90 as pedras estavam nas ruas e avenidas do Brasil. Muitos meninos de rua encontraram a morte pelos braços da fissura (craving). Mas a sociedade fez pouco caso – eram marginais! Uns “moleques” esquecidos, alienados e problemáticos. E assim as crianças foram apedrejadas pelo descaso e soterradas pela indiferença. Não havia quem rabiscasse no asfalto uma palavra de absolvição. Só se via nas paredes outra droga importada dos States – a pichação que veio com título de arte urbana, mas na verdade era uma droga com corpo de vandalismo. O crack continuava seu trajeto de destruição!

Um dia pensaram ter destruído a “cracolândia” e assim festejaram e deram as costas para o inimigo. Casas abertas, portas escancaradas e pais “politicamente corretos” permitiram o inesperado – o impensado. No início do século XXI o crack estava nas casas “ricas” também! Ele agora já era consumido pelos “bacanas” e para o espanto de todos era a febre dos filhos daqueles que outrora torceram o nariz, os mesmos que atiraram pedras de preconceito e discriminação aos ditos “vagabundos viciados” das ruas. E então como enredo final de um dramalhão social, uma mãe acaba por matar (não cabe a palavra assassinato pela natureza do ato) seu único filho – um usuário de crack. Mas a história tem um diferencial, pois se trata de uma família abastada que descobre a dor no bairro chamado Tristeza.

Hoje a sociedade levanta a bandeira de guerra ao crack. Campanhas surgem a todo o momento na TV alertando contra os perigos dessa pedra da morte. Mas por que somente agora? Por que passado mais de 20 anos só agora o crack é tão repugnante? Depois que tantos esquecidos foram dizimados é triste observar uma sociedade em “falsas dores”. Agora não cabe mais atirar pedras, afinal o pecado reside em casa. Hoje não cabe mais atirar pedras e rabiscar na areia os pecados ocultos não é mais necessário – eles estão expostos! Como feridas e chagas que não podem ser falseadas por tradições, valores vazios e dinâmicas familiares adoecidas.

A maior lição que se tira disso tudo é a seguinte:

“Cuide de sua casa, de sua vida e de seus familiares”. Se o costume da hipocrisia continuar a ser praticado, cuidaremos da vida dos outros e em meio a esses momentos inglórios de fofoca e de pobreza cognitiva e social, o crack poderá seduzir um familiar seu. Nesses tempos de “políticas educacionais” nada coerentes o melhor mesmo é compreender que todo mundo erra. Julgar a falha dos outros continua sendo o mais abominável costume e vício dos homens.

Por fim... Se você acha que nunca pecou – olha; olha... Não estaria você “viajando” pelo o uso da maldita pedra?




TEXTO: Rockson Pessoa
IMAGEM: http://paulodaltrozo.wordpress.com/

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Porque no fim queremos amar...


Podemos dizer que estamos felizes com nossa situação atual (solteiros). Dizer ou fingir achar que a vida vai bem obrigado e que amar passou a ser um custo desnecessário! Ainda é possível que se possa inventar que amor é para fracos, pois quem não domina os sentimentos é indigno de valor...

Podemos até acreditar em todas as falácias... Empreender maratonas de veneração egocêntrica, mas no fim... Todos querem amar. Queremos ter aquele ser especial - aquele que toca no fundo da alma com um simples olhar.

Os brutos também amam... Já foi dito tempos atrás! Todos buscam o tal amor! Um amor para dizer que é seu. Amor para passear de mãos dadas, para tomar sorvete ou até quem sabe, para discutir política e o futuro incerto. Amor para todas as horas.

Queremos um amor para dizer que somos amados! Para ficar subentendido que alguém na face na terra nos suporta, nos admira e nos quer bem. Buscamos um amor a "prova de balas" (o que não existe). A prova de tsunamis e acima de tudo: Um sentimento imune a rotina que vez ou outra arromba a porta dos relacionamentos.

Por que não amar?

Amar faz tão bem... Amar faz a gente se sentir confortável e seguro, mesmo quando tais sensações não existem! Amar não move montanhas, mas proporciona a companhia ideal para fazer um piquenique ao pé do monte... Amar faz bem pra alma! A gente fica contente... Sorri meio abobado (nos deixa mais abobados que de costume), nos faz aceitar que há outros “mundos” e que até podemos visitá-los de vez em quando. Amar faz bem pro corpo! Pois quando a mulher diz, com aquele sorriso nos lábios, que a barriga já saiu da “pequena área” ou quando o homem diz que irá dar a ela um pijama novo, pois o do frajola está desbotado e furado... Se aceita e até se diz: Ahh. Como ele (a) me ama!

Todo mundo busca amor...

Muitos não concordam... Sempre tem aquele conhecido que diz: Nunca vou casar! E daí você reencontra o sujeito 05 anos depois, casado e pai de gêmeos! E então só cabe a você sorrir e perceber que as pessoas mudam e as idéias caducam. Assim a gente percebe que todo mundo no final do ato encontra alguém – não digo que seja a “cara metade”, a “metade da laranja”, a “tampa da panela”... Nada disso! Sempre encontramos alguém que nos seja por testemunha...

No começo somos cheios de exigências... Queremos as pessoas mais bonitas, as mais inteligentes, as mais talentosas... Há quem já busque até as mais endinheiradas! Com o passar do tempo deixamos de ser exigentes e passamos a ser mais realistas! Penso que pelo peso do relógio biológico, ou quem sabe, pelo grande número de casamentos de amigos... Nessa hora a "ficha cai"! Tem gente que começa até odisséias... Sai caçando tudo e todos e isso é deprimente.

Hoje você pode estar assim... Solteiro (a), preocupado (a) e desesperançado (a), mas te digo que não há lugar para pânico, pois como já dizia um amigo meu: Até no grupo da terceira idade há espaço para um grande amor... Mas se você não quer esperar por esse "amor maduro". Se ame! Se cuide... Qualquer hora dessas alguém esbarra em você, não digo que será amor a primeira vista, mas quem sabe depois de um sorvete não começa enfim a tua história de amor...

Porque no fim todo mundo ama... Afinal, todos esperam encontrar alguém para casar... Para ter filhos ou adotá-los. Para passear de mãos dadas e compartilhas os segredos empoeirados. Todos nós queremos alguém que tenha coragem de envelhecer conosco... Aquela pessoa que compreenda que no fim a beleza some, o dinheiro acaba e o que restará é apenas amizade e se tiver sorte... o tal e famigerado amor.


TEXTO:Rockson Pessoa
IMAGEM: http://www.modabrasilvip.com.br/?p=362