quarta-feira, 20 de abril de 2011

Páscoa e embalagens descartáveis



Estamos na semana da páscoa. Lojas abarrotadas de chocolates gigantes (tem criança que come aquilo tudo?) e pais mais preocupados em dar bons ovos, do que em conversar com seus filhos.

Hoje já não sou tão novo, mas ainda me recordo da páscoa quando criança. Me lembro com saudade daquela sensação mágica de ver aquele ovo de chocolate ao meu lado. Boas recordações. O engraçado que de tudo isso, apenas uma coisa me chama mais a atenção - a lembrança vívida do ritual de amarrar a fitinha que vinha no ovo em meu braço. É disso que mais me recordo, da singela e mesquinha fitinha... Não me recordo muito dos pedaços de chocolate, porque sempre vinha aquela sensação de enjoo, depois de pedaços e pedaços do doce.

Nos últimos 4 anos tenho observado que minha páscoa está longe de ser a que foi um dia. Talvez porque as coisas mudaram. Quem sabe por problemas que tenho vivido. Mas penso eu, que as coisas mudaram para todos. Páscoa, Jesus, vendas, sagrado e profano... Colocaram tudo em um departamento e virou sinônimo de período para entretenimento. Momento de vender e encher o bolso – é isso que importa.

Entretenimento... Essa é a palavra! Hoje eu mudo os canais na tv e vejo muito se falar de Deus. Vejo inúmeras denominações e igrejas falando de um Deus, mas sei lá, tá complicado. Institucionalizaram Deus – Jesus então... Todo ano o colocam numa cruz de marketing e no fim, só encontro coelhos, ovos de chocolate e um peixe caríssimo para dizer que estamos lembrando de alguma coisa que aconteceu, mas é isso a páscoa?

As vezes penso que querem matar Deus. O querem calar. Penso que desejam fazer dele um item de colecionador. Banalizaram Deus essa é a verdade. Hoje as pessoas o querem vender. Isso é deprimente. Onde iremos chegar assim? Não é a toa que devoramos ovos atrás de ovos, numa forma de preencher um vazio que inicia a cada dia e a cada momento.

Ontem participei de uma missa para um indigente. Um cadáver que será utilizado no laboratório da faculdade onde dou aula. Não sabia que existia missa para tais situações, mas eu participei do rito. Foi alguém... Morreu como indigente, mas viveu. Hoje é apenas um corpo que será objeto de estudo.

As vezes acredito que Jesus é como esse indigente nos dias de hoje. É um indigente para nós e a missa ou culto que prestamos na páscoa é apenas um rito simbólico, uma forma de dizer. ‘Ok; ok já rezamos, oramos agora vamos ao que interessa’. A vida é assim hoje em dia. Sagrado e profano se misturam, se confundem. Hoje Deus é sinônimo de dinheiro, felicidade e muito, mas muito pouco discernimento. As pessoas hoje querem vender um Deus que nos deixa bitolados, sem atitude. Engodo e engodo.

Hoje temos milhões de ovos para comer... Tamanhos variados, gostos variados. Eu já comprei doces para os meus. Já cumpri o rito de espalhar o amor em forma de doce na minha casa e ontem eu orei por Jesus sem nome.

No fim, estou sem a fitinha para amarrar no meu braço. Estou sem o sentimento de outrora, talvez porque aquele que morreu na cruz um dia, precise ressuscitar em mim. Talvez porque hoje enterramos nossas emoções e seguimos como indigentes. Mas sei lá! Quem sabe somos a como esses ovos decorados, que servem apenas para cumprir um rito de aparências. Hoje aceitamos ser apenas uma peça para decorar vitrines. Hoje nos damos a preços irrisórios e no fim... Cumprimos uma época mesquinha e barulhenta em dada vida, para depois sermos como embalagens que para nada mais servem. Como indigentes, que descem à cova sem nome ou quem sabe, peças de estudo para outras futuras peças.

TEXTO: Rockson Pessoa
IMAGEM: http://www.hypecetera.net

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Tragédia de Realengo – O que se pode dizer?



Semana passada ficamos chocados! Toda a sociedade brasileira se chocou. Um louco (clinicamente falando) invadiu uma escola e fuzilou crianças inocentes. O que se pode dizer? Sinceramente não sei nem o que pensar.
A verdade é que as escolas se tornaram um lugar hostil e perplexo acompanhei ao longo dos últimos anos muita violência nessas nossas instituições tupiniquins. Crianças brigando e postando vídeos na internet, alunos espancando professores, drogas fluindo pelos corredores. Isso já havia nos chocado e tenho reconhecer que já havia nos banalizado.
A tragédia de realengo surge como um novo marco, ela nos mostra que não há limites para uma mente pertubada ainda mais quando encontramos escolas sem segurança e de certo modo ‘abandonadas’. É claro que não foi culpa da escola no caso de realengo. O assassino poderia matar onde quisesse – infelizmente no seu delírio religioso, os alvos foram as inocentes crianças que não tinham culpa de nada.
Essa tragédia causou uma ferida em nossos corações. Hoje o medo assume novas formas e possibilidades, nossos temores mais profundos de fato existem.
Os pais enlutados jamais entenderão a tempestade que passou em suas vidas. Levarão um bom tempo para aceitar que no lugar improvável, cenas de um filme de terror ocorrerão. As crianças que sobreviveram carregarão a marca da lembrança. A dor de não terem salvo seus amigos e amigas e mais, terão sempre um ambivalência de emoções, quando uma parte será sempre grata pela nova chance de vida e outra parte, as confrotará com a pergunta: Por que eu sobrevive e não o fulano ou a fulana.
A polícia, tantas e tantas vezes desacreditada, mostrou que há excessões e que a grande maioria de seus homens ainda são dignos de confiança. Hoje temos um herói, um herói que pouco se alegra com esse reconhecimento, pois na cabeça do agora sargente Márcio Alexandre existirá sempre a cobrança do tempo: E se eu tivesse entrado 5 minutos antes? Para ele pesa a dor de não ter salvo mais crianças. Levará certo tempo para ele entender que as tragédias psiquiátricas são assim mesmo – não há como prevê-las. Pois a maldade nem sempre pode ser vista nos olhos.
Não bastasse essa trágedia e a comoção nacional – já surge a idéia de novo plebiscito referente ao desarmamento. Politicagem e tragédia sempre uma boa relação e agora voltaremos as urnas mais uma vez, mas isso resolve? Não resolve! Na tragédia de Realengo observamos isso, o assassino Wellington Menezes, comprou as armas no mercado negro. Então essa história de usar sofrimento alheio para emplacar ditames pseudo-constitucionais, isso me enoja.
Devemos acordar! É isso mesmo. Ais pais eu digo: Cuidem de seus filhos. Conversem com seus filhos. Quantos e quantos casos de estupros no caminho da escola? Quantos e quantos casos de adolescentes que foram estupradas e mortas voltando da escola. Nessa hora não adianta culpar  o estado e sair por vítima. O Estado tem obrigação de dar segurança para nós, mas terei de entregar meus filhos como mártires? Penso que não. Enquanto o mundo for mundo e as pessoas serem as mesmas pessoas de sempre, terei de entender que a oportunidade fará o ladrão, o estuprador, o pedófilo, o assassino e segue a horrenda lista.
O problema é a banalidade. A vida se tornou assunto e manchete de jornal. Hoje um corpo na rua é motivo de fofocas ligeiras e nada mais. Até que um dia o tal corpo é de um de nossos familiares. Esquecemos da realidade da morte, mas independente se esquecemos ou não da concretude da mesma, ela existe – por isso a regra é simples: Cuide dos seus! Não que isso irá resolver tudo, pois realengo é um exemplo que por mais que cuidemos dos nossos filhos, sobrinhos... Sempre haverá oportunidades para as tragédias, mas por mais que exista esse 1% de tragédia, devemos seguir e tomarmos a postura de responsáveis por nós e pelos nossos familiares.
Tragédia de Realengo... Só o tempo apagará as marcas daquela fatídica manhã. Que as famílias enlutadas possam superar a dor e a ausência dos que foram covardemente ceifados.