segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Seres humânicos


Hoje é corriqueiro o termo "produtos orgânicos", tal categoria engloba uma série de alimentos sadios e limpos que são cultivados sem agrotóxicos e sem fertilizantes químicos. Quem pensaria que um dia chegaríamos ao pleonasmo de desejar o orgânico do orgânico? Mas vivemos esse resgate pela naturalidade das coisas... Afinal pelo passar do tempo acabamos por alterar até a natureza dos organismos.

 Há alguns anos atrás o SUS (Sistema Único de Saúde) iniciou um programa no Brasil,   a “Política Nacional de Humanização", que em linhas simples, visava propiciar aos usuários do serviço público um atendimento mais humano - é contraditório, mas o que se observava em muitos centros de saúde era um atendimento deficiente e incoerente.  É importante refletir sobre isso, na medida em que nos deparamos com a problemática de se humanizar o humano... Essa emergência surge na constatação infeliz de uma falta do aspecto humano nas pessoas. Infelizmente os humanos de hoje não são apenas pessoas que tratam mal os outros, eles matam também por motivos mesquinhos e banais. Temos de refletir sobre nosso cotidiano, sobre nossa essência e perceber se nos falta e se temos permitido "polimento social" em nossos filhos. Temos criado produtos nocivos... Pessoas com pestes na alma e com corações de pura terra dura e seca.
 
Será que nas próximas décadas teremos indivíduos que poderão ser chamados de seres humânicos? Pessoas que trazem em sua essência: educação, valores, bons hábitos e costumes. Não digo que exista um roteiro pré-determinado, as pessoas não são robôs, mas o básico é aceitar as diferenças, respeitar e permitir um ambiente social propício para o bem estar físico, psicológico e social das pessoas... Infelizmente a maioria das pessoas “é cultivada” com hábitos tóxicos e se formam cheias de vícios e traços de personalidades nocivas para si e para os outros. São como essas verduras com uma linda aparência, mas que trazem em sua constituição venenos silenciosos...

Os produtos orgânicos apresentam um lugar de destaque nos mercados e até nas bancas mais humildes, de maneira geral são produtos mais caros, em virtude de um maior investimento de pessoal e pelo aumento do tempo/ produto, pela retirada de produtos orgânicos e químicos que fazem com que ocorra uma produção em tempo menor. A maioria das pessoas não vê com bons olhos esses produtos. Querem pagar o menor preço possível e pouco se importam se alface, por exemplo, veio de uma lavoura em Chernobyl - o que vale é ser barato!

No Brasil, penso que no resto do mundo também, pouco se tem valorizado as pessoas de bem. No território nacional é visível o drama dos professores, que de maneira figurada são nossos "agricultores", são eles que lidam com nossas crianças e filhos. O que se esperar de professores tão mal remunerados? Afinal assim como as verduras, o governo quer pagar o mais barato possível... Os professores ganham mal e as autoridades não conseguem perceber a importância de nossos mestres. A educação assim como uma boa horta leva e tempo e investimento, como comparar com o concreto não é mesmo? Deve ser por isso que hoje os políticos só visam obras magníficas, não se importando muito com a qualidade dos usuários. Não enxergam a regra simples: Professor mais valorizado é igual a um profissional mais motivado e isso gera alunos melhores, pessoas melhores... Está diante do nosso nariz, mas educação é algo clichê e banal - um perigo!

Espero que um dia possamos valorizar as coisas como elas são. Assim teremos alimentos realmente naturais e limpos e pessoas genuinamente humanas e verdadeiras, até lá vou tomando cuidado com a beleza que me chega aos olhos... E vou cultivando a sensibilidade de perceber o que é natural, para poder não levar na sacola da vida, pessoas artificiais e "estragadas" e quando em casa chegar, ensinar meus filhos a preparar uma salada natural, para que aprendam desde cedo o valor do correto e do certo.


TEXTO:
Rockson Pessoa
IMAGEM: http://www.estadao.com.br/

Divulgação



Queridos amigos da blogesfera...

Gostaria de divulgar a obra do meu amigo Manoel Lanzer. Seu livro No Silêncio de nossas iras, traz uma reflexão oportuna por meio de uma escrita moderna e inovadora. Eu já devorei e recomendo o cardápio intelectual...

Gostaria de falar mais sobre o belo trabalho, mas minha função é deixá-los em estado de extrema curiosidade!

Interessados em adquirir a obra em questão favor acessar o link: http://manoelianzerpoesia.blogspot.com/

Uma boa leitura






Rockson Costa Pessoa

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Porque o mal não está lá fora...



Recordo-me da minha infância... Nas tardes corríamos como loucos e comumente chegávamos em casa com alguns arranhões, era a prova das peripécias de uma infância sadia. Eram tantas brincadeiras e tanta aventura que o tempo era pouco, para nós de pouca idade.


Quando o sol já se escondia, e os sons eram orquestrados com maestria - tudo silenciava, nossos pais ficavam no portão e nos chamavam, na verdade berravam e aí de quem se fizesse repetir. Era o fim de mais um dia e término de mais uma brincadeira de rua.

Eu achava que o mal morava na rua pela parte da noite... Acreditava que no escuro as coisas que eu mais temia ganhavam vida, por isso deveria estar em casa em "segurança". Quanta ingenuidade...

Enquanto nas ruas os cachorros hoje latem e se espantam com o vento que assovia e passa correndo, trancamos nossos lares e nos refugiamos em nossos quartos para cumprir um rito natural dos homens - comportamento de proteção para sobrevivência. E quando as luzes se apagam, surge outro mundo e nele o medo pelo mal que de certo se esconde lá fora...

Certa vez Rubens Alves escreveu: "Mansamente pastam as ovelhas e os lobos estão soltos...". Nesse livro ele diz que as ovelhas (as pessoas do bem) estão presas em suas casas e os lobos (os de má índole) vivem soltos e impunes. Mas será que o mal reside apenas lá fora? Será que no conforto de nossos lares ele não está? Devemos analisar bem tais possibilidades.

Nos porões de nossa mente, onde lobos são aprisionados e onde o medo é temido, devemos avaliar que o espelho não é de todo verdade - ele mente e existe assim, naquilo que fingimos ser ilusão ou metáforas do ego, um espaço propício para o mal. Não digo que sejamos de todo ruins, mas de monstro todo doutor tem um pouco e o homem quando despido de seu rótulo... Nada mais é que um simples animal. Assim sendo, volto a questionar: O mal está mesmo lá fora? Ou ele já se confunde com uma parte de nós, quando sozinhos percebemos que nossos intentos não são tão bons assim? No momento que ignoramos nossas atitudes para as demais pessoas, ou quem sabe quando num desejo irresistível de ter aquilo que se deseja, acabamos por não considerar obstáculos. De fato, há em todos um sentimento que necessita ser dominado, ou ele tomará as rédeas da sua psique.

Nossos pais já sabiam...

Já sabiam que o mal podia se apropriar de nós! E assim naquelas chamadas ao fim da tarde, não temiam apenas por um mal que residia ali naquela rua, mas temiam por um mal que existe em tudo. E que este nos tomasse como reféns em momento oportuno. Eles sabiam... E nós éramos crianças ingênuas demais para considerar tal ameaça. Com o tempo aprendemos a trancafiar o mal dentro de nossos porões, por simples associação, pela aprendizagem ou por singelo descuido infantil. O banho não era apenas banho, era a metáfora de que expurgar o não desejado se faz necessário sempre - a vida é feita desses ritos que considerávamos tão banais. Sendo assim... É importante dizer mais uma vez que... O mal jamais esteve lá fora... Ele está ao nosso lado. Está em nossas mentes, sonhos e intentos. Não há portas que o possam aprisionar nem correntes que possam imobilizá-lo... Ele só pode ser neutralizado com domínio próprio e um amor que vem de casa.

Por isso nessas noites frias e silenciosas quando você trancar as portas, não tema pelo vento que corre depressa, nem por aqueles que praticam o mal na esquina. Conte uma história para seu filho e filha, dê um abraço apertado... E quando aqueles olhos grandes em face pequena, denunciarem um medo oculto, diga que embaixo da cama não há monstros e que você vai sempre protegê-lo... Ele irá entender e um dia saberá também, que o mal está sempre correndo por aí, como um vento louco que assobia ou como a chave que enferruja dentro de nossos lares.


TEXTO: Rockson Costa Pessoa
IMAGEM: http://algunstrintaanos.blogspot.com/