sábado, 29 de novembro de 2008

Menino de Rua


Era uma vez um menino que perambulava pelas ruas da grande cidade... Seu olhar contemplava tudo e todos e por mais que o desprezassem, ele apenas sorria. Maltrapilho e descalço, se sentia o dono de tudo, afinal era dono de todas as esquinas daquele lugar.


De noite procurava se recolher, com isso, encontrava companhia no amigo de muitos anos, um velho papelão e assim dormia e sonhava. Nos seus sonhos, já não era pequeno, e nos pés um lindo sapato... Nesse mesmo sonho, se via engravatado, como as pessoas que via na rua. As mesmas pessoas que o ignoravam e de certa maneira o desprezavam... Em certo momento, ele parava em frente a uma luxuosa panificadora e comia uma torta que só poderia ser comida com um dinheiro que ela não possuía... E assim seguia o seu sonho, onde assumia algo que não era dele. No dia seguinte, mais uma vez estava vagando maltrapilho e satisfeito, pelas ruas da velha cidade. Agora seguia para frente de uma churrascaria e ficava um bom tempo gravando cada detalhe de tudo, dos pratos, das carnes e contemplava tudo sorrindo... Depois procurava no lixo algum pedaço de sanduíche e voltava a olhar para a comida e para as pessoas que freqüentavam o lugar... Em dado momento, um mendigo que passava pelo local, e que o conhecia o indagou: O que você ganha olhando essas coisas meu filho? Não sabe que não tem dinheiro para comprar isso? O garoto sorridente, respondeu: O que eu ganho tio? Eu ganho meu jantar de todas as noites, pois quando eu durmo... Eu viajo e posso comer tudo aquilo que vejo durante o dia... Por isso, fico aqui... Para que a minha cabecinha não esqueça os detalhes de nada... Porque hoje a noite tio... Eu serei aquele doutor ali....

Rockson Costa Pessoa

Corsário


As vezes pergunto por que escrevo?
Nunca obtenho respostas...
Bom entao só me resta escrever e esperar que essas escritas
Sejam embaladas em garrafas imaginárias
E que encontrem em alguma ilha um sentido de existir.

Se escrevo é porque sinto que preciso!
Não por vaidade!
Mas por necessidade de expressar o que sinto.

Nesse mar da vida,
Tantas e tantas pessoas não podem escrever
Por não saberem e por não conseguirem...

Sendo isso escrevo por estas almas sofridas
Que não falam por prosa nem rima
A dor que deverás sentem...

Entao me ponho a escrever e acredito que um dia
As garrafas chegarão a um coração solitário
Assim poderão trazer um ânimo de vida
Em vidas muitas vezes sofridas

De mãos dadas


De maos dadas seguimos por caminhos distintos
Não por instintos infimos
Mas por entender que a vida segue

De maos dadas caminhamos confiantes
As vezes meio cambaleantes
Mas ainda assim marchamos

De maos dados tocamos o infinito
Por amor e por destino
Podemos ser sobriedade

De maos dados é assim nossa sina
Na dor e na alegria
Somos luz e sabedoria

De maos dadas a vida é mais segura
Pode vir a noite e a amargura
De maos dadas não se pode haver penumbar

De maos dadas um dia chegamos
Aos trancos e barrancos
Seremos assim velhos amantes

De maos dados e peito aberto
Já te vejo mais que perto
Agora podemos viver de afeto

Rockson Costa Pessoa

Sou assim


Sou pensamento articulado
Um amante meio endoidado
Sou feliz e sou amado

Sou poesia e prosa pronta
Uma bate-papo de responsa
Uma conversa animada

Sou loucura e normalidade
Patologia e gravidade
Sou humano de verdade

Sou filho e tio também
As meus só quero o bem
A família é felicidade

Sou medo e desconhecido
Um turista mal-resolvido
Vagabundo desajeitado

Sou futuro e nostalgia
Uma porta e escotilha
Para acesso invariável

Sou assim e assim não nego
Posso até ser descoberto
Mas o buraco é mais embaixo

Sendo assim vou pro espaço
Me esconder no armário
Esconderijo imaginário

Rockson Costa Pessoa

S.O.S - Coração


De noite sinto as vezes o coração doer...
Não que seja uma cardiopatia
É uma dor de amor

As vezes penso que meu coração vai parar...
Mas não pára, nem mesmo a dor que sinto no peito
Só me resta assim, meu travesseiro

Por que amar as vezes machuca?
Se o amor é cura! É o que dizem eu acho...
Só tenho certo que amor dói meu peito

As lágrimas inundam meu rosto
Fecho os olhos e disco pedindo socorro
É espero ajuda em meu nada conforto

Descanso assim inerte e esperançoso
Que da porta entre algo maravilhoso
Nem que seja apenas um S.O.S fantasioso

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Algo


Um sentimento imenso
Um olhar virolento
Um pensar mais que louco
Um vagar pesaroso

Um agir incoerente
Um amar displicente
Um sentir camuflado
Um chegar amarrotado

Um toque envolvente
Um sentir mais que quente
Um beijo enamorado
Um estar apaixonado

Um frigir mero ternura
Um buscar em pausa nua
Um viver admirado
Um pulsar enfeitiçado

Um caminhar acompanhado
Um estar de braços dados
Um sorrir desavergonhado
Um amor e fim de papo.

sábado, 22 de novembro de 2008

Correnteza...


E assim me levam as águas... Com misteriosas e sinistras mãos!
As águas me mostram que seguir em frente é a melhor opção! Pelo novo caminho percorrido em constante, sinto o refrigério da mesma. As águas me ensinam que a vida nada mais é que um eterno correr, logo procuro olhar tudo com uma lentidão... Quem sabe asssim guardo nos recôncavos de minha mente, lugares e coisas que outrora me aterrorizaram para depois marcar em mim, sensações e sentimentos que surgem do nada.

As águas são silenciosas, as vezes ouço ruídos, mas são tão ínfimos pertos da sonoridade absurda do silenciar de tudo... Meus olhos se fecham e o frescor é enorme! Flutuar nada mais é que vôo plagiado, não tenho asas, só me resta flutuar e assim por mais infantil que seja, me sinto livre...
O segredos das águas repousa na medida que buscamos compreender esse infinito recomeço que é a vida! Em dado ponto somos mero resultado de um grandioso mar de coisas... As vezes somos apenas um pingo em dada tempestade em copo d'agua... Não quero pensar muito, prefiro ficar flutuando, sei que irei parar em algum lugar...

A água segue um curso por ela destinado, e nós? Seguimos que curso? Que objetivo tem a tua vida... Na verdade existem pessoas que nem sabem o curso pela qual destinam suas vidas... São como pequenas lagoas que se isolam da realidade que é a vida... Pessoas que vivem alegrias mais que momentâneas, mas cada qual no seu barco, eu creio que não posso falar muito, porque estou apenas confabulando enquanto flutuo e me perco em pensamentos!!!
Assim segue a minha vida... Nessa correnteza de construção e descoberta... Um dia nossas águas irão se encontrar, e de mãos dadas amor, seremos chuva... chuva de apaixonados

Solidão...


O que é solidão?


Se não aquela louca percepção de que algo mudou? Sim só senti solidão quem já desfrutou de companhia. A solidão é a pura realidade de que você já teve alguém ao lado, na verdade é a mais dolorosa certeza de que as coisas mudam, as vezes para pior...

A solidão é aquele barco sem timão... É navegar em mar revolto e não ter fárol para mostrar o caminho...

A solidão é aquele suicidar-se sem justa compreensão... É a depressão para os que amam e o refúgio dos sábios.

Poucos conseguem lidar com a solidão, afinal a mesma é um bicho arisco. As vezes te afaga, mas em outras tenta ceifar-lhe a vida...

A solidão é o copo cheio de cerveja ao mesmo tempo que está tão vazio de respostas... É a lágrima fácil e a dificuldade de perceber o óbvio... Ihh será que misturei tristeza com solidão? Não tem problema porque na maioria das vezes, tais coisas estão juntas... Como unha e carne... E por falar em carne a solidão é aquele corte que disfigura as vezes e nos obriga a disfarçar, máscaras, benditas máscaras o que seríamos sem elas...

A solidão é assim, dor, saída, condição... É tanta coisa e causa alguma... Tristeza machuca a vida essa é a verdade, por isso sou equilibrista e lido com a mesma, procurando não me machucar com os espinhos. Sei que os riscos que corro, mas as vezes a sensação de andar na corda bamba nos instiga. O lado bom da coisa, é que posso relatar sobre a solidão, como alguém que olha um jogo de xadrez por cima... É sou um expectador e espero não ser notícia da própria condição que investigo....

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

UM OÁSIS EM MEIO AO DESERTO - Trabalho realizado no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro


Lembro do primeiro atendimento realizado no grupo de familiares do CPER, na qual eu e mais algumas pessoas participamos conjuntamente. Lembro-me da sala com aparência tão residual quanto uma esquizofrenia que embota a alma. Recordo-me dos primeiros rostos que fitei e em todos eles se via marcas de uma vida de sofrimento e de luta. A fala de todos aqueles familiares parecia buscar devotar aquele sofrimento que ambos sentiam. Como se quisessem mensurar uma dor – como se buscassem dizer que a dor de cada um sentia era maior ou mais significante do que do outrem.

Então estava configurado o cenário. Uma sala de triste e de mórbida aparência, e pessoas tão tristes e pálidas como a tal sala. Nós os facilitadores do grupo estavam assim no papel de contribuir de alguma forma e conjuntamente com tais indivíduos. Um trabalho deverás difícil, porém não impossível.

Em dado momento na sala, uma fala ressoa de maneira atordoadora “Ah eu já nem me lembro da minha data de nascimento”. Bom, essa fala causou uma revolução em minha mente e ali pude constatar não somente o que os olhos viam, agora podia escutar o próprio som da anulação, o som da perda de identidade. O forte som que diz de certa maneira: “passo a viver pelo meu familiar que é doente e esqueço de mim mesmo”, ou seja, a partir do surgimento da doença, se observava assim que toda a família se mobiliza junto com esse processo de adoecimento.
Quando busco uma forma de ilustrar esse grupo, a imagem que me vem é de um deserto. Onde tudo é difícil e complicado.

Um deserto onde os dias são longos, e você se vê debaixo de um sol escaldante, procurando uma vaga para uma avaliação psiquiatra, onde você se vê ali com um familiar, que precisa ser vigiado, pois teme que este faça mal a alguém ou que até mesmo faça mal a si mesmo. Um deserto em que você não consegue parar nem para pensar em si, pois o tempo é curto para tantas e tantas inspeções médicas e o único maná que desce do céu é um auxílio saúde e quem sabe uma aposentadoria.

Dado deserto onde as noites são mais aterradoras , onde o frio é tanto que dói a alma. Onde a noite é deverás traiçoeira e nela surgem vozes que mandam alguém machucar ou até mesmo “esquartejar” o outro. Onde o sono não é tão saboroso, na verdade é um sono de bombeiro de emergência, pois a qualquer momento você se vê na emergência de alguma situação.

Então assim é esse deserto. E eu e outros colegas estávamos nesse deserto também, pois ao ouvirmos as histórias, os depoimentos, os relatos emocionados. Sentimos o sofrimento de cada participante, mas somos continentes e estamos ali para de alguma forma construir algo em comum ajuda com estes participantes. Sendo assim entendemos que há uma troca – um fazer junto.

Quando estamos no deserto, o que buscamos tanto na fantasia, quanto na realidade é encontrar um oásis. Um lugar que nos proporcione água, um descanso e um incentivo para prosseguir no tal deserto da vida.

O grupo de familiares é assim o oásis. Que se permite construir na medida em que as pessoas passam a gostar de freqüentar o grupo, no passo onde a escuta do outro, permite ao sujeito ver que cada um tem uma dor, um desafio, mas que ninguém sofre mais que outro. Um oásis onde cada um tem um tempo de se ver no reflexo dessas águas e que com isso possa se notar como um “SER”, não apenas um cuidador, mas sim, indivíduo dotado de singularidades. Um oásis onde podemos descansar dos infortúnios da vida. Mas um lugar acima de tudo em que possamos criar, onde possamos nos articular e assim buscar melhorias para nossos familiares.

A sala não vai mudar de aparência e nem tampouco aquele velho ar-condicionado irá parar de roncar de maneira alucinante, mas acredito que as pessoas possam mudar à medida que acreditam que a vida não é somente sofrimento. A idéia de oásis é a idéia de em meio aos muitos desertos existem lugares para se descansar, mas em nenhum momento o deserto deixará de existir. Assim como na clínica, alguém senta ao divã para descansar e verbalizar aquilo que incomoda. No grupo familiar, a mesma coisa acontece, e cadeiras se tornam mais que divãs.

Com isso entendemos esse oásis como um lugar, onde a dor pode ser abarcada por nós profissionais. Um lugar em que os fantasmas não causam tanto medo, nem aos familiares nem tampouco aos profissionais – uma pausa para que se possa trilhar o caminho com uma nova perspectiva.