terça-feira, 24 de março de 2009

Ferro e carne

Há muito atrás, num lugar frio e gelado, havia um menino que vivia num mundo de ferro... Ele um mero humano, dividia sua existência com máquinas de todas as espécies. Ele se sentia só e buscava uma companhia – um alguém para se sentir menos solitário. Abriu um velho embrulho e nele encontrou seu coração que batia de maneira vívida. Tirou um pedaço do coração e colocou numa máquina que achou por perto... Logo nasceu um amigo. Eram inseparáveis mas, por força do destino, apareceu a ferrugem... E esta se mostrou bem forte e logo a máquina endureceu e não pôde mais andar com o menino... O menino ficou triste, mas como prova de carinho deixou o pedaço de coração com o antigo amigo.
A vida do menino nunca mais fôra a mesma, agora já sabia o que era ter alguém do lado e precisava disso e já havia se esquecido de como viver sozinho. Voltou para o embrulho e mais um pedaço tirou... Encontrou uma nova máquina, mas essa era mais nova – ele não queria mais um encontro com a tal ferrugem! E mais uma vez foi feliz, e assim, experimentou coisas novas e a vida já lhe sorria... As vezes até esquecia que vivia num lugar tão frio e por esquecer esse detalhe... Um dia o frio foi intenso demais e quando fechou os olhos e se enrolou no seu velho cobertor, dormiu feliz e realizado, mas ao amanhecer do novo dia, descobriu que o frio intenso da noite anterior, fez com que o ferro do novo amigo, congelasse o coração dado... E agora já não havia mais vida. O menino se revoltou, não aceitava mais uma perda e não quis chorar, afinal estava viciado em ter alguém ao lado, precisava disso para viver agora e assim mais uma vez fez uso do embrulho...
Não sei ao certo... A história é muito antiga, mas dizem que esse menino teve inúmeros companheiros... E da mesma forma que descobria novas formas de amizade, descobria também o lado triste de perder alguém importante. Dizem que ele nunca chorou, nunca. Não que ele nunca quisesse, mas sim, porque no dia que mais desejou isso, não mais pode! Por que? Bem, um dia, após perder mais um amigo ele correu para o velho embrulho e lá nada mais encontrou, nem sequer um pedaço... Dizem que nesse momento ele quis muito chorar... Mas agora já não havia coração se quer para torná-lo humano... E assim o menino viveu triste... Pois agora não era nem humano e nem ferro... Era apenas um corpo gelado, numa cidade fria e escura.
Dizem que até hoje o tal menino vive em sua eterna busca... Não a busca por amigo, mas sim a busca por um mero pedaço de coração.




Rockson Costa Pessoa

sábado, 14 de março de 2009

ANÔNIMO TEMPO

Não escondo minha atração pelo tempo... Não sei se é uma forma de me privilegiar com o mesmo ou se é uma maneira de aceitar o fato da existência dele. Desde sempre somos regidos por esta força, algo tão intenso e profundo e que sem pressa agi sorrateiramente e as pegadas encontramos em nós mesmos.... Queria poder ser eterno e caminhar com Ele mas não é possível, então só posso eternizar esse viver, que se faz uma vez só.Não há fonte da juventude real, existem miríades em várias mentes. Naquelas que entenderam que juventude significa: felicidade plena e aceitação de sua natureza. Jogo então moedas na fonte de minha vida, esperando assim que o tempo seja brando comigo e que por alguns momentos se esqueça de minha existência... Ser eterno ou ser mortal uma escolha difícil, mas só nos resta a setença única e devastadora.Por isso gosto do tempo, não sei se ele se sente atraído por mim, mas de maneira camuflada, ainda prefiro o anonimato. Prefiro que ele cavalgue em seu cavalo para longe e que depois de um certo tempo, venha resgatar-me... O tempo, ele mesmo, justo juiz, que setencia nosso corpo e assim nos marca com seus intentos. Como um escultor que necessita constamente retocar sua obra de arte. O bom é que a alma, bem, essa amadurece sem cicatrizes, sem marcas nem rugas e sem datas ou números. Por isso cuido da alma para que está seja eterna. Meu corpo esse eu zelo, mas sei que ao dormir.... O tempo virá para retocar e dar mais um acabamento, um de muitos que ainda irão acontecer... No anonimato de nossos sonhos profundos e de dadas noites, ele vêm.... Silencioso e paciente, eterno em suas virtudes e qualidades. Que seja bom o tempo comigo e que façamos um pacto de paz. Para que, em dada esquina ele me toma para enfim eu poder ser eterno e livre, como as brandas águas que repousam serenas na fonte.

Rockson Costa Pessoa

quarta-feira, 11 de março de 2009

Os homens são mágicos…

Agora percebo que todos nós homens somos mágicos, afinal conseguimos disvirtuar realidades e enganar a nós mesmos com nossas vãs ilusões. Conseguimos vivenciar 3 realidades temporais: passado, presente e futuro e não obtemos sucesso em nos fidelizarmos a nenhuma delas. O homem é um ser tão ilusório que consegue viver de algo que não existe – o passado! Afinal quem me prova que ele existe? Ele é pretérito, mas por mais louco que pareça o homem (nós), conseguimos nos prender anos a fio em algo que não mais existe... É a memória é a cartola mágica e o passado virou o truque preferido de muitos...
Outra capacidade explêndida de nós seres-humanos é o poder de ignorar o presente, ou seja, de fazer desaparecer algo que EXISTE! Não falo de tele-transporte, mas sim de arrebatar o hoje e transformá-lo em nuvens de NADA... O homem tem essa habilidade, não sei se aprende na escola da rapidez da vida, ou se já nasce com esse talento surreal.
Por fim os seres humanos desenvolveram ao longo do tempo o DOM de prever o futuro e embaralhando suas cartas, encontram os AZ de tudo, infelizmente essa mágica sempre apresenta fraudes e logo são desmascarados pela realidade e aí o show acaba para nós mágicos... E por fim o que temos? Não temos nada... Afinal por querermos sermos os melhores mágicos do mundo, acabamos nos tornando péssimos malabaristas e deixamos as três bolas caírem ao chão... O importante é que o show tem de continuar e nunca é tarde para aprendermos a viver o hoje e entender que o que fica para trás não pode voltar e o futuro, bom esse deve ser esperado com paciência...

Rockson Costa Pessoa

Não seja como os cachorros

Era sempre assim, dobrava a esquina e aquele mesmo cachorro a me persseguir. Corria desesperadamente atrás do carro, mas logo ficava para trás. Eu achava engraçado e também não posso negar que me intrigava com tamanha “burrice” daquele cão.Ele deve ter corrido umas 20 vezes atrás do meu carro e só parou de correr, quando em uma noite de chuva fina e ele fechou os olhos e nunca mais abriu...Por muito tempo, sem saber ou imaginar, eu era como esse cachorro. Correndo atrás de coisas que não eram coerentes, e por mais clara que fosse a realidade, de alguma forma eu a ignorava e passava a correr atrás das coisas, uma busca infrutífera... E acabei que me tornei tão burro quanto aquele animal... Ainda bem que nunca é tarde para mudar e mudei.Ainda hoje, pessoas continuam a correr atrás de carros imaginários e perseguem coisas por um costume ou hábito nocivo.As vezes nos pegamos correndo atrás de “falsos amores”, pessoas que na nossa mente se configuram o amor verdadeiro, mas que na verdade não passam de uma paixão doentia.Podemos correr atrás de falsos amigos, que nos ignoram, que nos maltratam e que no fim... Nada mais são que colegas, somentePodemos correr atrás de sonhos infrutíferos e acabamos por criar uma realidade paralela, onde nem se vive o real e o imaginário só cabe na fantasia.Podemos correr atrás de preenchimento da alma, como se pudéssemos preencher um vazio de carência, com simples amores instantâneosPodemos correr atrás dos outros, sem ao menos sermos notados. Com isso passamos a nos rebaixar por idéias criadas por outros que adotamos, como aquelas que somos inferiores, ou menos importantes que alguém...Podemos correr simplesmente atrás de novidades... Buscando em cada novo carro um sentido para a vida, mas logo o carro vai embora e ficamos a ver não mais carros, mas sim naviosA verdade é que ao passar ainda hoje por aquela rua, me recordo daquele cachorro, que persistentemente fazia da perseguição seu objeto de trabalho... E me dói ver pessoas que ainda não conseguiram enxergar a verdade... Pessoas com potencial, com talentos e habilidades que se submetem a vidas de cachorros... seres inferiores que lidam puramente a partir de instintos.Hoje a noite, passou na TV que vai chover... Pedirei a Deus que ninguém feche os olhos para não mais abrir... Pois um cachorro morrer sem mudar um hábito, bem isso é esperado. Mas agora, um humano morrer tendo vivido uma vida de cachorro... Bem, isso é tragédia.


Rockson Costa Pessoa