segunda-feira, 14 de junho de 2010

Vou me deixando


Vou deixando sem querer...
Como matéria que luta pela inércia das coisas!
Vou deixando!

Deixando de mim mais um pouco
Deixando as migalhas para o desconhecido

Vou deixando ao menos sem perceber
Vou me tendo e querendo por deixar
largo de mão! Solto o tempo que se há
Os olhos ignoram o que se vê
Cúmplice do tedioso processo de esquecer
Esquecer o que não existe, mas poderia haver
Perpetuar o erro do descaso de se perder...

Vou deixando um de mim! Muito de nós
Os assuntos inacabados, pontos sem Nós
Retalhados pelo ventilador abandonado
Refugos de um caloroso amor repaginado
melodicamente escancarado - o prazer da voz

Vou me deixando, para ninguém de certo
Um corpo nú descoberto
Nem lençol de herança para esse ser malfazejo[ó]
Vou me deixando por hábito inoportuno
Sou um sagaz, velho gatuno!
Me perdi pelo caminho...
Nesse lânguido e desprovido...
Coração sem mero sentido

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